Para este comentário fui obrigado a refletir se ia ou não contar para vocês, mas decidi compartilhar, pois a tragédia muitas vezes pode ser uma comédia, então vamos lá:
Um passeio muito bom, cujos detalhes ficam para outra hora, terminou com a chegada ao aeroporto de Recife, com a antecedência de praxe. Fila de check in imensa e mala por despachar, o que fazer? Olhei o totem de check in e lá fui eu, que beleza, em um minuto, bilhete emitido e ficou apenas a mala por despachar. Duas filas, entramos na maior, como bom brasileiro, enquanto fui me informar se não havia outro jeito para despachar a mala. Prontamente a atendende indicou uma fila menor, ufa que alívio, mas olhando bem não era tão menor assim, mas considerando que ela servia apenas para despachar malas, deduzi que seria rapidinho. Vinte minutos depois não andou quase nada, esquisito. Observando melhor havia uns passageiros que estavam fazendo chek in. Ora, se era fila exclusiva para despachar a mala, não poderia demorar tanto, mas demorou. A paciência foi esgotando e lá fui falar com a atendente:
- Querida a fila não serve apenas para despachar a mala, por que estão fazendo check in também? A moça demonstrou dúvida, mas não poderia desdizer e afirmou novamente que a fila servia para quem já havia emitido o bilhete e foi averiguar.
Atrás de nós uma infeliz disse, isto é normal, não sei porque está reclamando (óbvio que era mais um desses brasileiros acomodados e que vive no mundo da Alice no País das Maravilhas). Nós não havíamos almoçado e percebi que faltava pouco mais de 15 minutos para meu embarque. No entanto, para não arrumar confusão, contive o ímpeto e aguardei mais alguns minutos antes de reclamar novamente. Neste intervalo, duas outras pessoas perceberam a demora e falaram alto sobre a demora. Isto me fez concluir que eu estava certo e ratificado por outras pessoas lúcidas do que estava ocorrendo.
Quando a atendente percebeu a irritação das pessoas, rapidamente anunciou que os passageiros do voo nosso e de outro, deveriam se dirigir para outra fila, pois o embarque esta iniciando. Excelente, finalmente conseguimos despachar a mala, após longa espera, já um pouco irritado, faminto e chateado por constatar a grande dificuldade que o brasileiro enfrenta nos aeroportos nacionais e não se vê solução a curto prazo.
Muito bem, já nos respectivos assentos, o voo estava cheio e observamos as pessoas em nosso redor. No assento à frente uma família de quatro pessoas, o casal e duas meninas, sendo uma pequenina de 4 anos e outra de 9 anos. Batemos o olho na pequena e achamos uma graça e lembramos dos nossos filhos que não haviam viajado pela primeira vez conosco.
No banco de trás uma garota bem robusta acompanhada do respectivo "meninão", que se notava, com muita evidência, também acima do peso.
O avião subiu e com muita esperança de que chegássemos rapidamente ao destino, fomos surpreendidos com a informação de que faríamos escala no Rio de Janeiro. Ué, o voo era direto e ganhamos mais este brinde. Bilhete enganoso!!! Não havia o que se fazer aquela altura, senão ter paciência, mais uma vez. O avião subiu e fechei os olhos, na tentativa de adormecer, isto faria com que o tempo passasse mais rápido. De repente, não mais que de repente, ouço um grito estridente, alto e apavorante, ou melhor eu fiquei apavorado, abri os olhos e vi que não era nada demais, apenas aquela gracinha de criança, indignada com alguma coisa. Bem vamos tentar mais uma vez, cerramos os olhos e em menos de um minuto outro grito. Pela intensidade, achei que haviam batido na menina. Pensei, não vou nem perder tempo de abrir meus olhos.
Não tenho certeza mas acho que cochilei alguns minutos, segundos, sei lá, só sei que outro grito fez-me abrir os olhos com força para saber se haviam feito algo de ruim à menina e em seguida atirado pela janela. Ufa, vi a menina ali e a hipótese de terem atirado pela janela, graças a Deus, foi descartada.
O sono foi embora, porém, a menina intensificou seus gritos e então resolvi tentar entender o que ocorria com ela ou com a situação, pois não seria possível tais gritos, com tanta intensidade, volume e frequência.
Observando o contexto, vi que a menina era daquelas que comumente se vê hoje em dia, criança mimada, autoritária, sem ouvir os pais e pais, estes, extremamente omissos e passivos, sem qualquer ascendência sobre o comportamento da criança e muito menos preocupados com os demais passageiros, ou seja, verdadeira falta de educação e compostura num ambiente público, onde ao menos em respeito às pessoas, poderiam controlar a criança. Digo isto, porque tenho filha pequena e sabemos que não é muito fácil educá-las hoje em dia, razão pela qual ficamos atento às crianças que nos rodeiam para analisar os vários comportamentos e buscar meios para manter uma boa educação, principalmente em locais públicos ou em lugares onde nem todas as pessoas são obrigadas a conviver com pessoas mal educadas. Ensinar a se comportar em lugares públicos é obrigação dos pais, mesmo que estas crianças cometam deslizes, pois é da própria natureza delas exceder e avançar sinais, por isso que os pais devem conduzir e corrigir os excessos para se evitar os abusos, isto é EDUCAÇÃO.
A intensidade e frequência foram aumentando, eis que o primeiro passageiro, sentado ao lado do pai e da menina maior levantou-se. Obviamente que a paciência dele havia acabado. Por sorte ele com muita calma abriu o compartimento de bagagem e retirou um ipod e um fone de ouvido, cara de sorte, tinha o que era necessário para aquele momento. Sentou-se novamente e sem dizer qualquer palavra, inseriu os fones e seguiu a viagem sem falar nada. A cara dele dizia tudo.
A omissão dos pais era absurda. Foram 3 horas de tortura, com guinchos repentinos e em alto som. De repente minha mulher solta um xiiiiiiiu e põe a mão na boca, se desculpando comigo e dizendo, pensei que fosse um de nossos filhos, foi puro impulso e nada resolveu. E a menina grita, MMMMAAAAAEEEE QUE IR COM O PAPAI e pulava a menininha para o assento do pai. Passava cerca de um minuto, já gritava novamente, NNNÃAAAAAAAAAO, quero ir com a mamãe. Puro mimo. O que era uma gracinha no começo, àquela altura, parecia o Chuck.
Para encurtar, após cerca de duas horas, notei que o outro passageiro que estava sentado na poltrona ao lado da menina e da mãe levantou-se e ai preciso descrever, pois foi ilário. Ele era alto, barba cerrada, de uns 55 a 60 anos, muito calmo, em pé, olhou para a em menina que acabara de soltar um grito absurdamente alto, fixou os olhos na mãe, balançou a cabeça, com sinal de não e como se estivesse num ring de luta, no ponto mais alto do seu esgotamento e após tanto socos, jogou a toalha ao chão, olhou ao seu redor e fixou os olhos em nós e disse (com muita calma): - Não dá, não tem mais condições, vou ficar andando pelo avião até que ele desça e seguiu caminho em direção a cabine do piloto. Há muito tempo não via uma cena tão ilária que me fez tirar do sério e cair numa tremenda e gostosa gargalhada (mas entendendo que a situação representava uma profunda tristeza, já que são serem humanos que merecem respeito, principalmente por desejar ter uma viagem tranquila e não estávamos tendo). Triste a situação mas a cena muito ilária, pelo comportamento daquele homem.
Depois de um bom tempo, o avião começou seu procedimento de descida e ele retornou ao seu acento. Estávamos prestes a descer no Rio e com ele, muita expectativa e oração para que aquela criança e seus pais descessem no Rio também. Dito e feito, para felicidade dos passageiros, eles desceram.
Após a saída daquela família, faltou muito pouco para que aplaudissem aquele homem, pela atitude a paciência demonstradas, diante do caos instalado naquele avião. Só não aplaudiram porque também estavam cansados do martírio e não me contive, ele nos olhou, com que tendendo a se justificar, mas logo disse: - O Sr está de parabéns, sua paciência foi de um monge tibetano e Confúcio ficou para trás.
Finalmente seguimos viagem para São Paulo. Pensam que acabou, nada disso. Relaxamos e reclinei o banco com a intenção de cochilar para descansar e para que o tempo passasse mais rápido.
O avião decolou e quando estava prestes a iniciar a descida, foi anunciado pela comissária que os cintos deveriam ser afivelados e a poltrona reposicionada para cima. Como viajamos com certa frequência, percebemos quando o avião está próximo do aeroporto ou não e resolvi ficar mais alguns minutos naquela posição até que sentisse que ele estaria mais próximo do chão, eis que o meninão e a meninona cutucam meu assento, para chamar a atenção, eu já havia me esquecido dos "tepeches" e o meninão, com aquela postura digna de um Lord Inglês tupiniquim, diz, "Oh volta ai a poltrona ai meu, o avião ta desceno". Eu olhei para trás e vi aquela cena estarrecido, pois a educação do povo, coisa fina jamais vi e me lembrei das peças. Pensei, o que estes infelizes tem com isso? Tenho culpa eu agora, que são obesos? Devem comer pelas orelhas e eu pago o pato? Tenho culpa que os aviões são contruídos com dimensões para pessoas com certo peso e eles não cabem neles? Por que não voam de primeira classe, o banco é mais espaçoso ou vão na fila da saída de emergência que tem mais espaço para as pernas? Quem deu a liberdade a estas tristes figuras de se dirigir a nós, com aquela entonação? Sem um pingo de educação, me armei para soltar o verbo, mas, naquela altura do campeonato, depois do Chuck infernizar o voo inteiro, o time dos obesos entrou em campo para decidir nos penaltis e então entendi, a poltrona reclinada estava incomodando a fofa e o quanto antes eu subisse o encosto, ela acomodaria o invólucro dos excessos alimentares cometidos outrora.
Então, com muita paciência e em nome da paz, resolvi terminar a viagem sem tecer comentários ou dirigir a palavra aos tepeches. Afinal o passeio estava tão bom, não iria me indispor com eles, porque a confusão seria grande.
Quando saímos daquele avião foi um alívio, simplesmente para aprender a dar mais valor, à palavra PAZ. Ela é de suma importância em nossas vidas.
Nota: É lamentável ver o povo que outrora não possuía condições de viajar de avião e agora o tem, demonstrar tanta falta de educação e compostura, especialmente em se tratando de ambiente público, onde os passageiros mais educados, pagam um preço bastante alto por conviver com estes outros, que não têm a mínima noção de respeito aos limites entre o seu espaço e o espaço alheio. Pessoas assim devem permanecer em seus habitats de origem, provavelmente selvagem, onde a linguagem entre seus pares, deve ser a mesma. isto é apenas um relato da realidade brasileira. Cômico se não fosse trágico.
O Expresso passou voando baixo hoje.